Historia em resumo

A mais séria paródia que jamais ouvi foi esta:"No começo era o absurdo, e o absurdo era, por Deus!, e Deus (divino) era o absurdo." Friedrich Nietzsche

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A verdade do homem e sua ilusão de mundo.

Verdade, aquilo que é real; verdadeiro. Correspondência à realidade. Princípio religioso, científico e moral em que se baseiam doutrinas e crenças.

Para melhor discutir esse conceito, se faz necessário o levantamento de dois elementos importantes. O primeiro é o tempo e como este influencia a composição do que por nós é considerado real, verdadeiro. O segundo somos nós, seres humanos, que através de nossos sentidos interpretamos tal realidade.

Heráclito, ao afirmar que "o mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje", defende a idéia de que nada permanece estático, ou seja, nada é. Tudo é um constate vir á ser, independente de nossa percepção. E assim a idéia de realidade como condicionada ao tempo é evidenciada. Tal pensamento nos leva a abandonar o conceito clássico de verdade como sendo algo empiricamente real, e força-nos a considerar a verdade a partir do pressuposto de que tal conceito se encontra condenado ao devir, à incerteza do vir a ser. Ao questionar se algo é verdadeiro, devemos pensar até quando; pois se a realidade é um fluxo permanente no tempo, um constante vir a ser, logo, a incerteza nos impede de afirmar um conceito de verdade para além do tempo.

No que se refere à nossa percepção do mundo por meio dos sentidos recorremos à Platão. No mito da caverna, o filósofo grego retrata como alguns indivíduos presos no interior de uma caverna, desde o nascimento, encaravam a simples projeção de sombras como a real existência das coisas. Ele ainda ressalta a impossibilidade de nós alcançarmos uma verdade que seja absoluta, porém, enfatiza a necessidade de uma busca.

"O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o que queres saber é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro" (PLATÃO, 1956, p. 291).

Quando afirmamos que não é possível uma realidade para além do intelecto, chegamos a uma questão que não pode ser deixada em aberto. Como o intelecto foi capaz de chegar à concepção da existência de uma realidade em si inarticulável? Podemos pensar que tal possibilidade se dê a uma análise profunda na concepção de identidade do eu e como este se relaciona com o que pode ser chamado de não-eu.

O intelecto, através dos sentidos, não é capaz de pensar a realidade bruta, mas, sem sombra de dúvida, é capaz de pensar as limitações do corpo, sendo essas limitações sensoriais ou psicológicas. A compreensão de tais limites nos permite a crença em uma realidade para além dos sentidos.

"O cognoscente em nós é uma substancia imaterial, fundamentalmente diferente do corpo e chamada de alma; em contrapartida, o corpo é um obstáculo para o conhecimento. Por isso, todo conhecimento mediado pelos sentidos é enganador; o único conhecimento verdadeiro, correto e certo é aquele livre e distante de toda sensibilidade (portanto, de toda intuição), em outros termos, o pensamento puro, isto é, o ato de operar exclusivamente com conceitos abstratos" (SCHOPENHAUER, 2007, p.62).

A citação acima, escrita por Schopenhauer a respeito da filosofia de Platão, nos permite entender o corpo como sendo a caverna, o obstáculo posto entre a realidade bruta e o intelecto, impedindo assim uma total compreensão dessa realidade. Isso nos obriga a pensar em um novo conceito de real – o real possível – aquele por nós alcançado através dos sentidos e interpretado num processo de escolhas feitas por nosso intelecto na busca do conhecimento.

"Assumir a possibilidade de uma realidade subjetiva, isto é, limitada à interpretação do sujeito (do eu); não deve de maneira alguma ser encarada de forma niilista, no sentido de descartar a necessidade da busca pela compreensão do mundo. Acredita-se que quanto mais profundo o pensamento do homem, quanto mais delicado seu sentimento, quanto mais elevada sua auto-estima, quanto maior a distancia dos outros animais – quanto mais ele aparece como gênio entre os animais -, tanto mais perto chega da real essência do mundo e de seu conhecimento [...] O erro torna o homem profundo, delicado, inventivo a ponto de fazer brotar a literatura e a filosofia. O puro conhecimento teria sido incapaz disso. Quem nos desvendasse a essência do mundo, nos causaria a todos a mais incômoda desilusão. Não é o mundo como coisa em si, mas o mundo como interpretação (como erro) que é tão rico em significado, tão profundo, maravilhoso, portador de felicidade e infelicidade" (NIETZSCHE, 2000, p. 36-37).

Nietzsche, claramente, vai de encontro à idéia de uma realidade absoluta; ele prefere acreditar em uma realidade baseada na interpretação. Não é o conhecimento da coisa em si que faz do homem um ser privilegiado, mas a sua busca constante. O que nos leva a pensar se tratamos esse limite do conhecimento de forma apropriada, reconhecendo a impossibilidade de se chegar a um saber da coisa em si. “A interpretação não é uma condição, mas um acontecimento, um vir a ser e, por isso mesmo, em principio, impossível de ser concluída”. (GULDIN, 2010, p. 109).

Ulisses Maciel

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O caso Abel.

Por muito tempo, Caim foi responsabilizado pela morte de seu irmão. A ele foram atribuídos os mais sórdidos adjetivos, porém, poucos pensaram em analisar esse caso de forma a fazer jus a esse personagem.
Visando isso, proponho o levantamento de algumas questões simples. O primeiro fato a ser estudado é a onisciência de Deus, que se caracteriza pelo conhecimento de todas as coisas, independente do tempo, ou seja, Deus tem o consciência de tudo o que aconteceu, acontece e vai acontecer.
Pra melhor entender onde pretendo chegar, vamos aproximar esse caso através de um exemplo real. O que seria do médico que consciente da impropriedade de certo medicamento o aplica indiscriminadamente em seus pacientes? Mesmo que houvesse a possibilidade da sobrevivência de alguns, em caso de morte, seria ele o responsável? Acredito que sim.
E assim, no meu modo de ver, Deus faz pior, pois ao saber de todas as coisas não cogita a possibilidade de um desvio, pois sabe exatamente as conseqüências de seus atos.
Retornando a Caim, esse mata o seu irmão, porém, o assassinato é conseqüência imediata de uma provocação divina, pois Deus incita o ciúme de Caim ao menosprezar sua oferta e elogiar assiduamente a de Abel. O que agrava esse fato é que Deus sabia da conseqüência de tais atos, ele sabia que ao elogiar Abel e menosprezar Caim, o ultimo mataria o primeiro.
Com isso Deus assume um papel diabólico, para usar um termo bíblico, na trama do assassinato de Abel.
E não satisfeito, recompensa Caim, de certa forma, pois esse não morreria pelas mãos de terceiros, vivendo assim como errante na terra.

Ulisses Maciel

terça-feira, 6 de setembro de 2011