Historia em resumo

A mais séria paródia que jamais ouvi foi esta:"No começo era o absurdo, e o absurdo era, por Deus!, e Deus (divino) era o absurdo." Friedrich Nietzsche

terça-feira, 12 de junho de 2012

Moral Cristã

A moral cristã se baseia estranhamente na defesa da idéia absurda de que o homem sendo humilde alcançaria o paraiso. Mantendo-os assim, enterrados no buraco onde vivem felizes como escravos que esperam um dia ser reis. (Cristianismo). Razão tem Schopehauer quando diz que nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é auto-traição. Quando o homem se liberta de crenças impostas a ele, a modéstia se torna uma humildade hipócrita pela qual um homem pede perdão por ter as qualidades e os méritos que os outros não tem.

Ulisses Maciel

sábado, 9 de junho de 2012

A crise da verdade em paixão segundo G.H. de Clarice Lispector

 Paixão segundo G.H. pode ser considerado um romance existencialista, pois aborda uma série de questões sobre os limites entre o eu e a realidade. Marcado pela narrativa angustiante de uma protagonista desesperada diante da condição humana, limitada à criação ora de uma verdade, ora de um Deus que a conforte diante do abismo que é a existência. A crença em algo que represente explicações seguras é representada no romance como uma terceira perna – uma verdade.
Ideia de continuação corpória, inicialmente identificadas pela terceira perna e em outro momento pela identificação com o quarto. A personagem procura não apenas psicológicamente, mas também nas estruturas corpóreas criar prolongamentos que completem a compreensão de si mesma como existência. O quarto, configura de certa maneira o interior de G.H., local onde ocorre as reflexões a respeito do “eu”, ou de certa maneira, da imagem que a personagem tinha de si mesma como sendo um “não-ser” que a aproximava da verdade, pois só seria possivel ser negativamente.
Criando partes de seu próprio corpo a personagem leva ao extremo a ideia de que a realidade só é possível se for criada, não por mentiras, mas por inventividade. Essa crise do ser tem início quando a personagem, identificada pelas iniciais G.H., percebe que o ponto de sustentação de uma verdade a dar conta do inapreensível se perde. Simbolicamente representado pela imagem de uma terceira perna, ou tripé, G.H. descreve a crença em uma verdade como algo que ao mesmo tempo protege e impede que o indivíduo, no caso, ela mesma, se mova diante do abismo da incerteza.
Todo o mistério em torno da identificação da personagem, a começar pelo nome intensifica o clima inebriado que envolve sua existência. A metáfora do tripé surge como uma forma de apoiar a existência, evidenciando a insuficiência dos elementos que até então a constituíam como ser.
Ao mesmo tempo em que a perna representava segurança, ela trazia o peso da artificialidade, de uma fundamentação que excede a própria essência instável e cambaleante do Gênero Humano. A personagem, então, liberta-se desse membro excedente e entrega-se a agonia da incerteza, própria da condição humana. Abrir mão de explicações seguras simboliza uma aceitação da impossibilidade de verdades puras e estáveis.
Ao perder a crença fundamental em uma verdade que para a personagem seria absoluta, ela se liberta, descobre a essência de um ser nunca existente, uma G.H. independente da necessidade da crença, ela vive na condição das significações simbólicas e inebriadas. “Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária”.
No romance desenvolve-se através de seu personagem, uma idéia trabalhada pela filosofia de Heráclito, que afirma a não permanência de um estado das coisas. Segundo ele, Tudo é um constante vir a ser. Nada é. Seja por influência do mundo sobre o homem, ou do homem sobre o mundo. Nos restando viver sendo, pois ser, não é possível. Viver uma verdade é domesticar a vida para torná-la familiar.
Essa concepção aparece também em Jean-Paul Sartre, quando o filósofo, em O que é literatura, diz que o homem constrói o mundo e se constrói a partir dele, em uma cadeia inseparável de ações; gerando assim, uma série de reflexos incompreendidos. Quando um homem não é capaz de entender que os acontecimentos são conseqüências desse processo, ele busca o caminho mais fácil, a crença em verdades criadas para escapar da agonia diante do desconhecido.
            Esta resistência em aceitarmos o que não é facilmente compreendido ocorre devido a dificuldade de aceitarmos o mundo apenas como ideal inalcançável, como meras representações em nossas mentes. Ao perder essa idéia de ser, aquilo que antes considerávamos o “eu” se torna instável.  
Essa aproximação da verdade pelo não ser, descrito pela autora, representa a busca pelo em que acreditar. A questão não é acreditar, mas sim a constante busca pelo em que acreditar. G.H. sabe no que acredita porém não sabe por quanto tempo acredita no que acredita, tendo em mente a consciência do vir a ser, que nos (des)constrói diariamente. O que não nos permite impor de maneira alguma uma verdade que não seja temporária. Ela assume o erro como o único caminho para verdade, pois é no erro que deixamos o conforto do que conhecemos e entendemos. Não é o conhecimento da coisa em si que faz do homem um ser privilegiado, mas a sua busca constante. O que nos leva a pensar se tratamos esse limite do conhecimento de forma apropriada, reconhecendo a impossibilidade de se chegar a um saber em si. A verdade é algo pequeno, cabível nos limites do entendimento.
No obra de Clarice, nota-se que a autora demonstra toda riqueza e angústia existente no místério. Nada é facilmente compreendido em sua escrita. Ao final da leitura de um texto seu, temos a certeza de que precisaremos refazer a leitura. A amplitute dos sentidos ganha proporções infindáveis, profundas, obscuras e envoltas em interelações quase que infinitas. 

Ulisses Maciel