Historia em resumo

A mais séria paródia que jamais ouvi foi esta:"No começo era o absurdo, e o absurdo era, por Deus!, e Deus (divino) era o absurdo." Friedrich Nietzsche

domingo, 12 de junho de 2016

A respeito de Deus

Se um deus fez este mundo, eu é que não gostaria de ser este deus: a miséria aqui presente despedaçaria meu coração. - Arthur Schopenhauer

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Da curiosidade

Quando não compreendemos algo, devemos despertar a curiosidade de revelar o que se esconde por trás da ignorância. Ulisses Maciel

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Caso não fique satisfeito, aceitamos devolução.

Êxodo 21, 7:11

"Se alguém vender a filha como escrava, esta não sairá como saem os escravos. Se ela desagradar ao patrão, a quem estava destinada, este deixará que resgatem; não poderá vendê-la a estrangeiros, usando de fraude para com ela. Se o patrão destinar a escrava para seu filho, este a tratará conforme o direito das filhas. Se o patrão tomar uma nova mulher, ele não privará a primeira de comida, roupa e direitos conjugais. Se ele não lhe dar essas três coisas, ela pode ir embora sem pagar nada." 

Comentário: Mais uma vez devemos começar nos perguntando: É isso mesmo? Posso vender minha filha? Segundo a Bíblia sagrada, sim. Contando é claro que o comprador, ao presentear um filho com a escrava, lembre-se de trata-la como uma de suas filhas. Caso o produto seja destinado ao consumo próprio, ele deverá alimenta-la, vesti-la e de vez em quando come-la. O que ? Não entendeu. Direitos conjugais é exatamente isso. Sexo. Não importa se o patrão tem dez esposas, deverá tomar a todas de maneira regular. E se por um acaso, ele não cumprir com qualquer de suas obrigações, ela poderá regressar a casa dos pais sem nada precisar pagar. Tornando-se não só escrava rejeitada, como um membro impuro (não virgem) condenado a vagar as margens daquela sociedade. Correndo assim um sério risco de terminar seus dias apedrejada, ou na melhor das hipóteses, como prostituta.

Murphy, de Samuel Beckett: Uma resenha.

Publicado originalmente em 1938, só agora, com a tradução de Fábio de Souza Andrade e publicação da Cosac Naify, nos é permitido uma leitura em português desse que é o romance inaugural de Samuel Beckett, um dos maiores escritores do século XX. O que o coloca ao lado de nomes como William Shakespeare e James Joyce. Murphy, o primeiro livro escrito pelo autor, não pode deixar de ser considerado um estar entre, pois de certa maneira, Beckett ainda nos permite perceber traços de uma tradição literária, com a qual romperia, logo em seguida, ao compor a famosa trilogia Molloy, Malone morre e o inominável.
O  romance se inicia com uma certa profecia do que estaria por vir: “O sol brilhava, sem alternativa, sobre o nada de novo” (BECKETT, 2013, p. 5). O que podemos entender, como uma demonstração de indiferença. Uma história onde todos os personagens, se encontram interligados em um tipo de corrente existencial, que se projeta na existência do outro, que por sua vez se projeta a outro e assim por diante, adiante. Sem a devida reciprocidade. À margem de uma Londres de outros tempos, onde todos vivem sem muito significado, todos menos Murphy. Ele segue o caminho oposto. Trata-se de um personagem controverso. Que assim como Ulisses, segue errante, porém, por caminhos não pretendidos e despretensiosos em direção ao incerto.
Nesse sentido, Célia, a noiva prostituta e os outros personagens, perpassam a narrativa como sombras que seguem os rastros deixados pelo protagonista no decorrer da trama. Tornando essa busca, uma razão para continuar. Mas “de que serve a luz a um homem cujo o caminho se esconde? (BECKETT, 2013, p. 39), questionaria o professor Neary, em uma determinada passagem do livro. Antecipando, de certa forma, a função que Murphy desempenharia no romance. Guiar os outros personagens por esses caminhos não revelados.
Este espécime de marginal apático, que configura a descrição de nosso anti-herói, não se comove com o mundo a sua volta. Na verdade, interagir torna-se uma tarefa árdua, executada somente quando inevitável. O existir para ele, não é uma luta diária, que por meio do trabalho, perpetuamos. Murphy pensa a existência como uma condição, cuja luta, tiraria toda razão de ser. “Morrer lutando era a perfeita antítese de toda a sua prática, fé e intenção.”(BECKETT, 2013, p. 33).
Nessa busca pela razão do seu existir, Murphy abandona todos a sua volta e deixa-se afundar em um abismo introspectivo do qual dificilmente sairia. Nesse meio tempo, decide vagar pelas ruas da capital inglesa, onde por meio de encontros e desencontros, depara-se com Tincklepenny, um funcionário atordoado pelo ambiente da Mansão Madalena de Misericórdia Mental, o hospital psiquiátrico, onde não suportava mais trabalhar. E é justamente neste novo contexto, que Murphy começa a refletir sobre questões, que até então, não compreendia.
O primeiro estranhamento, resultado deste encontro, é a disposição que o protagonista tem em assumir a posição de Tincklepenny no sanatório. Apesar de Murphy dizer se tratar de um favor que estaria prestando ao amigo, logo nos é revelado que na verdade, ele via naquele ambiente, uma oportunidade de interagir com a natureza da realidade exterior de forma mais pura. Pois naquele mundo a parte que configura o sanatório, os pacientes estavam livres para desfrutar, mesmo que de forma confusa, desse raro privilégio.
E assim, voluntariamente, Murphy buscando retirar-se para seu espírito, adentra o labirinto intransponível do caos que, segundo o narrador da história, etimologicamente se confunde com gás, que por sua vez, seria capaz de fazê-lo “bocejar, rir, chorar, aquecer, deixar de sofrer, viver um pouco mais, morrer um pouco mais cedo”(BECKETT, 2013, p. 137)  
Neste ponto do romance, Samuel Beckett deixa transparecer dois importantes problemas para a filosofia. Provavelmente em consequência das leituras a que o autor se dedicava no momento da composição da obra. O primeiro, relacionado a compreensão da relidade. Ou melhor, a não compreensão de uma realidade pura. Dada a variação condicionada à sensibilidade daquele que a define. Pois, “homens, mulheres e crianças da ciência tinham modos tão variados de prostar diante dos fatos quanto qualquer grupo de iluminados”(BECKETT, 2013, p.138)  Em um segundo momento, quando define as razões do tratamento ao qual os pacientes estavam subjulgados, ele parece estar refletindo sobre o ser da ciência, responsável pela tarefa de estabelecer caminhos que nos permitam transitar de maneira razoável e equilibrada, sobre o abismo caótico que compõe essa realidade exterior.
E é justamente, na busca por um contato imediato com essa natureza da realidade exterior que Murphy, nosso protagonista se perde. Na triste percepção do inglório a que todos estamos condicionados a ser. “Uma partícula ínfima no não visto” (BECKETT, 2013, p. 196).


                                               Ulisses Maciel

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O pecado que Deus não viu.

Gênesis 19, 31:38

"A mais velha disse à mais nova: 'Nosso pai já está velho e na terra não há nenhum homem para ter relação conosco, como se faz em todo lugar. Vamos embriagar nosso pai para ter relação com ele; assim daremos uma descendência ao nosso pai'. Nessa noite, elas embriagaram o pai e a mais velha deitou-se com ele, que não percebeu nem quando ela se deitou, nem quando se levantou. No dia seguinte, a mais velha disse para mais nova: 'Na noite passada eu dormi com meu pai; esta noite, nós o embriagaremos de novo, e você se deitará com ele; assim daremos uma descendência ao nosso pai'. Também nessa noite, elas embriagaram o pai, e a mais nova deitou-se com ele, que não percebeu nem quando ela se deitou, nem quando se levantou. E as duas filhas de Ló ficaram grávidas do próprio pai. A mais velha deu a luz à um filho, e o chamou Moab, que é o antepassado dos (atuais) moabitas. Também a mais nova deu á luz um filho, e o chamou Ben-Ami, que é o antepassado (dos atuais) amonitas."

Comentário: Esta é uma passagem bíblica que me chama muito a atenção, por não ser abordada com frequência. Afinal, vai de encontro ao comportamento moral, aceito pelos preceitos culturais da atualidade. A ciência enfatiza os riscos consequentes de um possível cruzamento genético parental. E nossa sociedade, mesmo sendo cristã, ignora completamente essa passagem e abomina qualquer relação sexual entre parentes consanguíneos, em especial, entre pais e filhos ou irmãos. O que põe em xeque o mais fundamental preceito bíblico, o da inquestionabilidade. Durante séculos, adeptos das sagradas escrituras, impuseram a uma grande massa ignorante, as mais absurdas idéias, com o simples propósito de dominação. E assim, no que toca a questão do incesto cometido entre o personagem bíblico Ló e suas filhas, demonstramos, que as vezes, mesmo acreditando-se cegamente em algo, uma reação instinto-repulsiva, sobrepõe a credulidade insana.

Ulisses Maciel

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Seria a arca a maior embarcação já construída?

Gênesis 6, 19

"Tome um casal de cada ser vivo, isto é, macho e fêmea, e coloque-os na arca, para que conservem a vida juntamente com você."

Comentário: Com base em um relatório divulgado pela revista científica PLoS Biology, o mundo possuiria cerca de 8,7 milhões de espécies. Dentre elas a grande maioria de animais, seguidas de plantas, fungos e protozoários. Portanto, tomo a liberdade de considerar bastante improvável o armazenamento de um número tão abrangente de espécies, mesmo em uma embarcação moderna. Lembrando, que se levarmos em consideração o par, estamos falando de mais de 17 milhões de espécimes. Em uma arca com cento cinquenta metros de comprimento, construída por um único homem, cerca de 5.000 anos atrás.

Ulisses Maciel

A onisciência de deus.

Gênesis 6, 6 

"Então Javé se arrependeu de ter feito o homem sobre a terra, e seu coração ficou magoado." 

Comentário: Para entendermos o ponto que busco abordar nessa breve nota, é necessário que entendamos o conceito de onisciência e arrependimento. O primeiro, de acordo com o dicionário da academia brasileira de letras, qualifica aquele que tudo sabe, que conhece tudo. Já o segundo faz referencia ao sentimento de pesar por algo realizado equivocadamente no passado. Então cabe-nos a seguinte pergunta: Qual a possibilidade de um ser onisciente arrepender-se? Sendo que essencialmente todo o arrependimento segue um ato falho, ou seja, um erro. Seria possível um ser que tudo sabe deparar-se com um desconhecido capaz de provocar-lhe o arrependimento? 

Ulisses Maciel

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Entre o paraíso e o nada.

Gênesis 3-16:19

"Javé Deus disse então para a mulher: 'Vou fazê-la sofrer muito em sua gravidez: entre dores, você dará a luz seus filhos; a paixão vai arrastar você para o marido, e ele a dominará'.
Javé Deus disse para o homem: 'Já que você deu ouvidos à sua mulher e comeu da árvore cujo o fruto eu lhe tinha proibido comer, maldita seja a terra por sua causa, Enquanto você viver, você dela se alimentará com fadiga. A terra produzirá para você espinhos e ervas daninhas, e você comerá a erva dos campos. Você comerá seu pão com o suor do seu rosto, até que volte para terra, pois dela foi tirado. Você é pó, e ao pó voltará.'"


                               
Comentário: Como não poderia ser diferente, nos deparamos com uma nova alegoria, desta vez, buscando explicar não só a finitude existencial humana, como também a condição social em que se encontravam os prováveis leitores dos escritos sagrados. Como indivíduo consciente, nada mais natural ao homem do que o conhecimento do próprio ser como algo temporal, ou seja, a consciência da própria morte. O que nos levou, de certa forma, à criação de justificativas absurdas ligada à possibilidade de uma vida para além da existência. O que acredito ser a ilusão mais difundida na história da humanidade. Existem varias formas de existir, porém, nenhuma delas é eterna. O que ocorre é uma dificuldade natural em aceitar o nada que nos tornamos ao morrer. 
Em um segundo plano, com uma alta carga de intimidação, o autor do texto reitera o papel de subserviência que a mulher ocuparia naquela sociedade. Justificando assim, com base na "sagrada escritura", um carácter lamentável que ainda se mantém forte nos dias de hoje. Não diferente da mulher, ao homem também é imposto um perfil de trabalhador que há muito já existia. Sob o argumento que tratava a condição sofrida da maior parte da população como resultado de um castigo divino, as elites políticas e religiosas da época, mesmo em menor número, controlavam facilmente as pessoas menos privilegiadas, que aceitavam a exploração como um fardo a ser carregado em vida e recompensada no paraíso.     

 Ulisses Maciel

E surge o homem consciente.

A partir deste post, o blog será dedicado, por um determinado tempo, a trechos da "Sagrada escritura" que não obtiveram, ao meu ver, uma interpretação satisfatória. Então para começar segue a seguinte passagem.

Gênesis 3:3-6

"Deus disse: 'Vocês não comerão dele (do fruto), nem o tocarão, do contrário vocês vão morrer'. Então a serpente disse para a mulher: 'De modo nenhum vocês morrerão. Mas Deus sabe que, no dia em que vocês comerem o fruto, os olhos de vocês vão se abrir, e vocês se tornarão como deuses, conhecedores do bem e do mal'.
Então a mulher viu que a árvore tentava o apetite, era uma delicia para os olhos e desejável para adquirir discernimento. Pegou o fruto e o comeu. Então abriram-se os olhos dos dois e perceberam que estavam nus." 



Comentário: Durante algum tempo, acreditava-se na veracidade incontestável da Bíblia, ainda hoje, existem vertentes religiosas que defendem a "Palavra" como um pronunciamento direto de Deus ao homem, porém se prestarmos um pouco mais de atenção, veremos que esta passagem, nada mais é do que uma alegoria que busca explicar o surgimento do homem como conhecedor de sua existência.
O nosso entendimento não é capaz de retornar ao momento exato de transição do estado inconsciente para o estado em que nos encontramos hoje. A maçã, como acreditam alguns, seria a fronteira simbólica entre estes dois estados de consciência. E a inquestionabilidade imposta aos leitores da sagrada escritura, dificultou de certa maneira, uma compreensão mais racional e lógica, não só da passagem em questão, como de todos os livros e leis que compõem a sagrada escritura.  

Ulisses Maciel

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Do instinto à inteligência Humana

"O homem é o único animal dotado de inteligência." Essa afirmação me intriga a alguns anos, pois, como posso afirmar algo que foge à experiência por mim vivida. Nunca estive na cabeça de um animal para afirmar com tanta veemência a ausência de inteligência. Com isso, deveríamos repensar a afirmação. Talvez, "o homem é o mais inteligente dos animais," seria melhor, pelo fato de a experiência nos permitir tal afirmação. Claramente o homem possui uma inteligência que o permite lidar com uma série de problemas, que à um animal, que não o homem, seria impensável. Com isso podemos dividir, esse caminho em direção a inteligência humana em três etapas. Instinto, inteligência concreta e inteligência abstrata.
Alguns animais, mais primitivos, de fato, são isentos de inteligência, ou seja, o instinto é a única ferramenta de sobrevivência e interação com o ambiente. O ciscar de uma galinha que busca o alimento ou o dançar de um pássaro que busca acasalar não é um ato de inteligência, mas apenas uma forma de perpetuar a espécie. 
Se pararmos para pensar a respeito de um animal, cuja estrutura se assemelhe mais ao homem, iremos observar uma desenvoltura mais relacionada à ideia de inteligência. O macaco - prego, por exemplo, intriga estudiosos, por sua ampla inteligência. Ele é capaz de analisar o meio em que vive para melhor aproveitar os recursos disponíveis, até mesmo com o auxilio de ferramentas. Porém, essa inteligência ainda é o que podemos conceituar como concreta. Ela esta relacionada à solução de um problema de forma imediata, uma vez solucionado esse problema, não se guardam valores para uma futura necessidade, nem há um aperfeiçoamento das técnicas utilizadas. O que nos leva a concluir que a experiência não serve de apoio a um possível desenvolvimento.
Diferente do homem, que não somente lida com problemas imediatos, como antecipa possíveis problemas. O homem utiliza sua experiência com o intuito de solucionar, facilitar e evitar o surgimento de novos problemas. O que segundo a filosofia, trata-se de uma inteligência abstrata. O homem, acredito eu, é o único animal dotado da consciência de sua existência. Dado que fundamenta a criação das diversas formas de pensar, criar e recriar a realidade na qual está inserido, seja por meio da arte, da religião ou da filosofia.

Ulisses Maciel



quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Divino absurdo


Um homem velho senta-se com dificuldade diante de um grupo de pessoas e diz vagarosamente:

Vejam bem a que ponto cheguei!
Eu que fui, certa vez, criatura divina.
Imagem e semelhança de Deus.

Deus, esse que no absoluto de sua sabedoria,
me criou a partir do barro.

Será ?
Dada a imperfeição, provavelmente.

Como poderia?
Um ser perfeito e absoluto criar o imperfeito?
Talvez tenha trocado a ordem das coisas.
Isso me ocorre às vezes.

Não sei se por conta da idade,
mas admito a dificuldade em ordenar,
mesmo assim eu tento.
mesmo sem a ilusão de poder.

Poder, eu não posso.
Me iludo, e assim, sigo em frente.

Para onde, perguntas.
Para o nada. Para a morte. Para onde mais?

                                                                                                                                      
                                                                                                          Ulisses Maciel

terça-feira, 12 de junho de 2012

Moral Cristã

A moral cristã se baseia estranhamente na defesa da idéia absurda de que o homem sendo humilde alcançaria o paraiso. Mantendo-os assim, enterrados no buraco onde vivem felizes como escravos que esperam um dia ser reis. (Cristianismo). Razão tem Schopehauer quando diz que nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é auto-traição. Quando o homem se liberta de crenças impostas a ele, a modéstia se torna uma humildade hipócrita pela qual um homem pede perdão por ter as qualidades e os méritos que os outros não tem.

Ulisses Maciel

sábado, 9 de junho de 2012

A crise da verdade em paixão segundo G.H. de Clarice Lispector

 Paixão segundo G.H. pode ser considerado um romance existencialista, pois aborda uma série de questões sobre os limites entre o eu e a realidade. Marcado pela narrativa angustiante de uma protagonista desesperada diante da condição humana, limitada à criação ora de uma verdade, ora de um Deus que a conforte diante do abismo que é a existência. A crença em algo que represente explicações seguras é representada no romance como uma terceira perna – uma verdade.
Ideia de continuação corpória, inicialmente identificadas pela terceira perna e em outro momento pela identificação com o quarto. A personagem procura não apenas psicológicamente, mas também nas estruturas corpóreas criar prolongamentos que completem a compreensão de si mesma como existência. O quarto, configura de certa maneira o interior de G.H., local onde ocorre as reflexões a respeito do “eu”, ou de certa maneira, da imagem que a personagem tinha de si mesma como sendo um “não-ser” que a aproximava da verdade, pois só seria possivel ser negativamente.
Criando partes de seu próprio corpo a personagem leva ao extremo a ideia de que a realidade só é possível se for criada, não por mentiras, mas por inventividade. Essa crise do ser tem início quando a personagem, identificada pelas iniciais G.H., percebe que o ponto de sustentação de uma verdade a dar conta do inapreensível se perde. Simbolicamente representado pela imagem de uma terceira perna, ou tripé, G.H. descreve a crença em uma verdade como algo que ao mesmo tempo protege e impede que o indivíduo, no caso, ela mesma, se mova diante do abismo da incerteza.
Todo o mistério em torno da identificação da personagem, a começar pelo nome intensifica o clima inebriado que envolve sua existência. A metáfora do tripé surge como uma forma de apoiar a existência, evidenciando a insuficiência dos elementos que até então a constituíam como ser.
Ao mesmo tempo em que a perna representava segurança, ela trazia o peso da artificialidade, de uma fundamentação que excede a própria essência instável e cambaleante do Gênero Humano. A personagem, então, liberta-se desse membro excedente e entrega-se a agonia da incerteza, própria da condição humana. Abrir mão de explicações seguras simboliza uma aceitação da impossibilidade de verdades puras e estáveis.
Ao perder a crença fundamental em uma verdade que para a personagem seria absoluta, ela se liberta, descobre a essência de um ser nunca existente, uma G.H. independente da necessidade da crença, ela vive na condição das significações simbólicas e inebriadas. “Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária”.
No romance desenvolve-se através de seu personagem, uma idéia trabalhada pela filosofia de Heráclito, que afirma a não permanência de um estado das coisas. Segundo ele, Tudo é um constante vir a ser. Nada é. Seja por influência do mundo sobre o homem, ou do homem sobre o mundo. Nos restando viver sendo, pois ser, não é possível. Viver uma verdade é domesticar a vida para torná-la familiar.
Essa concepção aparece também em Jean-Paul Sartre, quando o filósofo, em O que é literatura, diz que o homem constrói o mundo e se constrói a partir dele, em uma cadeia inseparável de ações; gerando assim, uma série de reflexos incompreendidos. Quando um homem não é capaz de entender que os acontecimentos são conseqüências desse processo, ele busca o caminho mais fácil, a crença em verdades criadas para escapar da agonia diante do desconhecido.
            Esta resistência em aceitarmos o que não é facilmente compreendido ocorre devido a dificuldade de aceitarmos o mundo apenas como ideal inalcançável, como meras representações em nossas mentes. Ao perder essa idéia de ser, aquilo que antes considerávamos o “eu” se torna instável.  
Essa aproximação da verdade pelo não ser, descrito pela autora, representa a busca pelo em que acreditar. A questão não é acreditar, mas sim a constante busca pelo em que acreditar. G.H. sabe no que acredita porém não sabe por quanto tempo acredita no que acredita, tendo em mente a consciência do vir a ser, que nos (des)constrói diariamente. O que não nos permite impor de maneira alguma uma verdade que não seja temporária. Ela assume o erro como o único caminho para verdade, pois é no erro que deixamos o conforto do que conhecemos e entendemos. Não é o conhecimento da coisa em si que faz do homem um ser privilegiado, mas a sua busca constante. O que nos leva a pensar se tratamos esse limite do conhecimento de forma apropriada, reconhecendo a impossibilidade de se chegar a um saber em si. A verdade é algo pequeno, cabível nos limites do entendimento.
No obra de Clarice, nota-se que a autora demonstra toda riqueza e angústia existente no místério. Nada é facilmente compreendido em sua escrita. Ao final da leitura de um texto seu, temos a certeza de que precisaremos refazer a leitura. A amplitute dos sentidos ganha proporções infindáveis, profundas, obscuras e envoltas em interelações quase que infinitas. 

Ulisses Maciel

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Medo da morte.

Por que eu deveria temer a morte?
Se eu for, a morte não é.
Se a morte é, eu não sou.

Por que deveria temer o que não existe, enquanto eu existo?


Epícuro

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sobre o arrependimento e o perdão.

Considera-se uma das maiores demonstrações de poder, a capacidade de se perdoar aquele que, de acordo com um determinado costume, comete um erro. Como sabemos a maior demonstração desse poder, para sociedade ocidental, se dá pelo sacrifício de Jesus Cristo, ser mitológico ou não, que tem como marco em sua história a morte inocente na cruz em prol do perdão de todos os erros a se cometer pela humanidade, bastando apenas o arrependimento para que o perdão seja concedido.


Porém, qual é o limite do perdão? Seria justo, uma vida dedicada ao erro ser perdoada por um único momento de consciência? Como podemos entender o estado psicológico que denominamos arrependimento?


Na minha opinião, o limite do perdão se dá em um processo de avaliação justa do erro e das conseqüências a serem aplicadas. De forma alguma o perdão deve significar ausência de punição. Quando cometemos um erro ao manusear uma faca, por exemplo, e nos cortamos, o arrependimento não nos livrará do ferimento, e, mesmo tomando os devidos cuidados posteriores, a cicatriz servirá de alerta sempre que retornarmos a manipular uma faca.


O arrependimento é um estado de consciência das possíveis conseqüências negativas do erro, juntamente com uma relação de temor, responsável pela sensação de insegurança em relação ao futuro do ser que comete o erro. Qualquer tentativa de defender a idéia de perdão como isenta de punição deve ser negada.


O cristianismo, na minha forma de pensar, influencia negativamente toda a sociedade. Pois fornece um álibi ao indivíduo que erra isentando-o das conseqüências. Para melhor entendermos o que quero dizer, recorrerei a dois exemplos claros. O primeiro se encontra na bíblia, onde um criminoso ao ser crucificado diz se arrepender de uma vida dedicada ao crime. Jesus se sensibiliza, perdoa e promete estar no mesmo dia com ele no paraíso. A vida dedicada ao crime é simplesmente ignorada. Um outro exemplo simples, mas não menos importante é o do indivíduo que ao cometer um erro diz: "vamos passar uma borracha nisso" ou "me perdoa! Vamos esquecer tudo isso."

Perdoar segundo o ensinamento cristão é esquecer o erro. E isso me incomoda muito, pois transforma arrependimento e perdão em conceitos opostos. O arrependimento deixa de ser um sinal de alerta em direção à possível recorrência do erro, e passa a ser um sentimento sínico em relação à culpa, pois não importa a gravidade dos erros cometidos, contando que se lembre de pedir perdão no final.

Ulisses Maciel


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A educação e o Brasil.

Hoje estive me perguntando o porquê de ainda existir uma "educação" pública no Brasil. Acredito que na ausência desta, praticamente ninguém estudaria. Em um país onde a educação ainda é vista como uma espécie de tortura imposta a melhor fase da vida, o fato de passar mais de dez anos em uma escola não é de forma alguma encarado com deleite.

Com isso, surge o problema do porque manter uma instituição precária, onde as instalações são vergonhosas, assim como o nível dos professores; em prol de uma demanda que não dá o mínimo valor.

Não esperamos formar médicos em um ano e meio, e isso se faz de forma descarada, para não dizer imoral com o professor. Hoje se formam professores a pacote. Para melhor esclarecer, é possível obter a chamada licenciatura dupla em várias "faculdades" públicas e privadas ao redor do país. Curso esse com a duração de dois anos e meio à quatro anos. Nem o ensino médio, pode ser feito em menos de três anos na escola regular – Caso prefira, poderá comprar o certificado no primeiro botequim que sustente a placa supletivo.

Como de costume, no Brasil, tudo é feito em favor dos poderosos, multimilionários, semi-deuses políticos e empresários (Homicidas de plantão, eles são semi-deuses, mas pode atirar que morrem). Se olhar mais de perto, a educação não é nem de longe, a prioridade nas escolas do governo. A principal função das escolas públicas, hoje, é ocupar o tempo livre das crianças, para que com isto, os pais possam trabalhar. O que configura a existência de uma escola sim, porém, não se pode ter garantias de uma educação de qualidade. Fugindo raras exceções, aqueles que periodizam a educação no Brasil precisam pagar, e caro por ela; o que completa o ciclo. Pois o filho do proletariado, que compõe grande parte da demanda pela escola do governo fica impedido de ser educado adequadamente, afinal mesmo que queira, não pode pagar por uma educação de qualidade, ficando as escolas de alto padrão reservadas aos filhos dos poderosos, multimilionários, semi-deuses que governam o país, não em prol do povo, mas de si mesmos.

Ulisses Maciel

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Da inteligência humana.

O grande equívoco do homem é considerar-se uma criatura divina, provida da habilidade de pensar naturalmente, como uma espécie de presente de Deus, atributo básico do modelo, assim como um automóvel e seu motor. Mal sabe ele que pensar não é um processo natural e sim um aprendizado. Quanto mais nos aprofundamos no exercício do pensar, mais nos distanciamos dos outros animais.

Ulisses Maciel

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A verdade do homem e sua ilusão de mundo.

Verdade, aquilo que é real; verdadeiro. Correspondência à realidade. Princípio religioso, científico e moral em que se baseiam doutrinas e crenças.

Para melhor discutir esse conceito, se faz necessário o levantamento de dois elementos importantes. O primeiro é o tempo e como este influencia a composição do que por nós é considerado real, verdadeiro. O segundo somos nós, seres humanos, que através de nossos sentidos interpretamos tal realidade.

Heráclito, ao afirmar que "o mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje", defende a idéia de que nada permanece estático, ou seja, nada é. Tudo é um constate vir á ser, independente de nossa percepção. E assim a idéia de realidade como condicionada ao tempo é evidenciada. Tal pensamento nos leva a abandonar o conceito clássico de verdade como sendo algo empiricamente real, e força-nos a considerar a verdade a partir do pressuposto de que tal conceito se encontra condenado ao devir, à incerteza do vir a ser. Ao questionar se algo é verdadeiro, devemos pensar até quando; pois se a realidade é um fluxo permanente no tempo, um constante vir a ser, logo, a incerteza nos impede de afirmar um conceito de verdade para além do tempo.

No que se refere à nossa percepção do mundo por meio dos sentidos recorremos à Platão. No mito da caverna, o filósofo grego retrata como alguns indivíduos presos no interior de uma caverna, desde o nascimento, encaravam a simples projeção de sombras como a real existência das coisas. Ele ainda ressalta a impossibilidade de nós alcançarmos uma verdade que seja absoluta, porém, enfatiza a necessidade de uma busca.

"O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o que queres saber é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro" (PLATÃO, 1956, p. 291).

Quando afirmamos que não é possível uma realidade para além do intelecto, chegamos a uma questão que não pode ser deixada em aberto. Como o intelecto foi capaz de chegar à concepção da existência de uma realidade em si inarticulável? Podemos pensar que tal possibilidade se dê a uma análise profunda na concepção de identidade do eu e como este se relaciona com o que pode ser chamado de não-eu.

O intelecto, através dos sentidos, não é capaz de pensar a realidade bruta, mas, sem sombra de dúvida, é capaz de pensar as limitações do corpo, sendo essas limitações sensoriais ou psicológicas. A compreensão de tais limites nos permite a crença em uma realidade para além dos sentidos.

"O cognoscente em nós é uma substancia imaterial, fundamentalmente diferente do corpo e chamada de alma; em contrapartida, o corpo é um obstáculo para o conhecimento. Por isso, todo conhecimento mediado pelos sentidos é enganador; o único conhecimento verdadeiro, correto e certo é aquele livre e distante de toda sensibilidade (portanto, de toda intuição), em outros termos, o pensamento puro, isto é, o ato de operar exclusivamente com conceitos abstratos" (SCHOPENHAUER, 2007, p.62).

A citação acima, escrita por Schopenhauer a respeito da filosofia de Platão, nos permite entender o corpo como sendo a caverna, o obstáculo posto entre a realidade bruta e o intelecto, impedindo assim uma total compreensão dessa realidade. Isso nos obriga a pensar em um novo conceito de real – o real possível – aquele por nós alcançado através dos sentidos e interpretado num processo de escolhas feitas por nosso intelecto na busca do conhecimento.

"Assumir a possibilidade de uma realidade subjetiva, isto é, limitada à interpretação do sujeito (do eu); não deve de maneira alguma ser encarada de forma niilista, no sentido de descartar a necessidade da busca pela compreensão do mundo. Acredita-se que quanto mais profundo o pensamento do homem, quanto mais delicado seu sentimento, quanto mais elevada sua auto-estima, quanto maior a distancia dos outros animais – quanto mais ele aparece como gênio entre os animais -, tanto mais perto chega da real essência do mundo e de seu conhecimento [...] O erro torna o homem profundo, delicado, inventivo a ponto de fazer brotar a literatura e a filosofia. O puro conhecimento teria sido incapaz disso. Quem nos desvendasse a essência do mundo, nos causaria a todos a mais incômoda desilusão. Não é o mundo como coisa em si, mas o mundo como interpretação (como erro) que é tão rico em significado, tão profundo, maravilhoso, portador de felicidade e infelicidade" (NIETZSCHE, 2000, p. 36-37).

Nietzsche, claramente, vai de encontro à idéia de uma realidade absoluta; ele prefere acreditar em uma realidade baseada na interpretação. Não é o conhecimento da coisa em si que faz do homem um ser privilegiado, mas a sua busca constante. O que nos leva a pensar se tratamos esse limite do conhecimento de forma apropriada, reconhecendo a impossibilidade de se chegar a um saber da coisa em si. “A interpretação não é uma condição, mas um acontecimento, um vir a ser e, por isso mesmo, em principio, impossível de ser concluída”. (GULDIN, 2010, p. 109).

Ulisses Maciel

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O caso Abel.

Por muito tempo, Caim foi responsabilizado pela morte de seu irmão. A ele foram atribuídos os mais sórdidos adjetivos, porém, poucos pensaram em analisar esse caso de forma a fazer jus a esse personagem.
Visando isso, proponho o levantamento de algumas questões simples. O primeiro fato a ser estudado é a onisciência de Deus, que se caracteriza pelo conhecimento de todas as coisas, independente do tempo, ou seja, Deus tem o consciência de tudo o que aconteceu, acontece e vai acontecer.
Pra melhor entender onde pretendo chegar, vamos aproximar esse caso através de um exemplo real. O que seria do médico que consciente da impropriedade de certo medicamento o aplica indiscriminadamente em seus pacientes? Mesmo que houvesse a possibilidade da sobrevivência de alguns, em caso de morte, seria ele o responsável? Acredito que sim.
E assim, no meu modo de ver, Deus faz pior, pois ao saber de todas as coisas não cogita a possibilidade de um desvio, pois sabe exatamente as conseqüências de seus atos.
Retornando a Caim, esse mata o seu irmão, porém, o assassinato é conseqüência imediata de uma provocação divina, pois Deus incita o ciúme de Caim ao menosprezar sua oferta e elogiar assiduamente a de Abel. O que agrava esse fato é que Deus sabia da conseqüência de tais atos, ele sabia que ao elogiar Abel e menosprezar Caim, o ultimo mataria o primeiro.
Com isso Deus assume um papel diabólico, para usar um termo bíblico, na trama do assassinato de Abel.
E não satisfeito, recompensa Caim, de certa forma, pois esse não morreria pelas mãos de terceiros, vivendo assim como errante na terra.

Ulisses Maciel

terça-feira, 6 de setembro de 2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

domingo, 21 de agosto de 2011

Sobre a existência de Deus.

A existência de um Deus absoluto, inarticulável e por nós não compreendido, representante do inexplicável, misterioso, desconhecido, nunca será nesse blog questionada, pois, acredito que ninguém tem condição de falar sobre aquilo que não conhece, logo, não poderia eu me atrever a um ato de tamanha irresponsabilidade.
O que questiono aqui é a existência de um Deus personificado, dotado de personalidade e comportamentos de uma criança mimada, como a irá, o ciúme, a perversidade, a crueldade, a vingança, o pai que ao criar o filho o abandona a própria sorte, pois, não há diante das inúmeras desgraças vividas pelo gênero humano, a mínima possibilidade de se acreditar na influência de um ser divino a querer o nosso bem; ou não seriam os haitianos filhos de Deus, os africanos, os pobres etc.? "Nós somos os responsáveis pelo mal, não eu, não você, não Deus, não o Diabo, mas nós em uma cadeia inseparável de ações."

Ulisses Maciel

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um retrato da democracia brasileira

Muito se fala a respeito da democracia no Brasil, porém, pouquíssimo se compreende dela. Ao conversar e ouvir pessoas, tenho cada vez mais a convicção, assim como Saramago, de uma democracia limitada à troca de uma figura da qual não se gosta por uma que talvez venhamos a gostar.


Observando um pouco mais de perto o processo eleitoral da democracia brasileira, chegaremos à conclusão de que o que vence as eleições não é de modo algum o melhor candidato e suas propostas, mas sim, seguindo o modelo capitalista de mercado, o candidato vitorioso será aquele que, dispondo de uma quantia exorbitante de dinheiro, possa pagar a melhor e mais freqüente propaganda.

Um candidato a prefeito de São Paulo, nas ultimas eleições, teve uma campanha com o custo estimado de 30 milhões de reais, sendo assim, cabe a nós perguntarmos a origem desse dinheiro e qual a lógica de tamanho investimento, considerando o fato de que no término de seu mandato o prefeito terá recebido como salário um montante na casa de um milhão de reais.


A origem desse dinheiro vem da classe empresarial que, visando benefícios posteriores, investe na campanha de um candidato; 30 milhões não é o custo da campanha, mas o preço do candidato que, sendo eleito, facilitará e muito os negócios dos respectivos empresários. Uma espécie de demônio disposto a comprar almas, nesse caso mais específico a alma é justamente a da democracia, pois o candidato se tornará um ventríloquo a ser controlado.


Com isso, posso concluir que a democracia brasileira, limita-se a governabilidade favorável aos seus investidores e não ao povo, configurando o retrato caótico por nós cidadãos ausentes, pois de fato não participamos do processo democrático em nosso país, testemunhado diariamente.


Ulisses Maciel

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Nós e a mídia

"O que acontece é que alimentamos as maquinas de informações para que elas vomitem esses trastes da forma mais massiva e barata possível." - Vilém Flusser

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Os limites da originalidade

Arthur Schopenhauer em um momento infeliz de sua filosofia disse que toda tradução é uma obra morta, e seu estilo, rígido, sem naturalidade; ou então se trata de uma tradução livre, isto é, que se contenta com à peu près, sendo portanto falsa. Ele ainda diz que uma biblioteca de traduções é como uma galeria que só expõe cópias, são um sucedâneo de suas obras assim como o café de chicória é um sucedâneo do verdadeiro café.
Tomando como base esse pensamento absurdo, eu digo que, morto, rígido, seria em nosso entender, o texto original, pois esse se encontra concluso. Se tivermos uma biblioteca de traduções equiparada a uma galeria que só expõe cópias, uma biblioteca de originais deve ser equiparada a um grande mausoléu a comportar cadáveres. Trazer esses corpos inertes de volta à vida, é expô-los a ótica do leitor-tradutor, como um corpo que habitado por um espírito alheio ressuscita e ganha nova vida.

domingo, 26 de junho de 2011

Sábio

Sábio é o homem que tem consciência de que antes de ensinar é preciso aprender.

Ulisses Maciel

quarta-feira, 1 de junho de 2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A caixa


Certa manhã, um homem de nome muito comum, acordou em um quarto composto de paredes inteiramente brancas e no centro uma cama na qual se encontrava deitada tal figura.
De maneira vagarosa ele pôs-se sentado na beira do leito, tomou um pouco de água que fora deixada em um copo ao lado de sua cabeceira e como que num processo de retorno a consciência, pensa:
- O que estou fazendo aqui?
Uma voz de tom grave, do tipo que relacionamos à pessoas extremamente sérias, se projeta de um alto falante localizado ao lado direito do quarto:
-O senhor está sob custódia permanente do rei dessa terra. Sua liberdade será anunciada segundo a vontade de nossa majestade. Qualquer tentativa de fuga é irrelevante, pois as paredes de seus aposentos são intransponíveis e o lado externo se encontra fortemente guardado.
- Qual o motivo de minha vinda à este lugar? Indaga o homem.
- O rei deseja vê-lo e pede encarecidamente que aguarde o tempo necessário.
Assim faz o homem durante cerca de cinqüenta anos.
No aniversário de setenta e cinco anos, as portas se abrem sem nenhuma explicação. Assustado, o homem que a essa altura se locomove com dificuldade, aproxima-se da porta e projeta o rosto para o lado externo do aposento com cautela. Deparando-se com uma atmosfera totalmente artificial, percebe que as paredes que para ele, durante longos cinqüenta anos, foram de concreto massiço não passavam de uma camada de madeira fina e papel, uma espécie de cenário cinematográfico.
O homem que estava prostrado de joelhos no chão, carregava uma expressão de espanto no rosto e balbuciava algo como:
- Cinqüenta anos, cinqüenta anos...
Ulisses Maciel