Este Blog foi criado com o intuito de registrar aforismos e pensamentos com relação a Filosofia, Literatura e Religião.
Historia em resumo
A mais séria paródia que jamais ouvi foi esta:"No começo era o absurdo, e o absurdo era, por Deus!, e Deus (divino) era o absurdo." Friedrich Nietzsche
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Divino absurdo
Um homem velho senta-se com dificuldade diante de um grupo de pessoas e diz vagarosamente:
Vejam bem a que ponto cheguei!
Eu que fui, certa vez, criatura divina.
Imagem e semelhança de Deus.
Deus, esse que no absoluto de sua sabedoria,
me criou a partir do barro.
Será ?
Dada a imperfeição, provavelmente.
Como poderia?
Um ser perfeito e absoluto criar o imperfeito?
Talvez tenha trocado a ordem das coisas.
Isso me ocorre às vezes.
Não sei se por conta da idade,
mas admito a dificuldade em ordenar,
mesmo assim eu tento.
mesmo sem a ilusão de poder.
Poder, eu não posso.
Me iludo, e assim, sigo em frente.
Para onde, perguntas.
Para o nada. Para a morte. Para onde mais?
Ulisses Maciel
terça-feira, 12 de junho de 2012
Moral Cristã
A moral cristã se baseia estranhamente na defesa da idéia absurda de que o homem sendo humilde alcançaria o paraiso. Mantendo-os assim, enterrados no buraco onde vivem felizes como escravos que esperam um dia ser reis. (Cristianismo). Razão tem Schopehauer quando diz que nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é auto-traição. Quando o homem se liberta de crenças impostas a ele, a modéstia se torna uma humildade hipócrita pela qual um homem
pede perdão por ter as qualidades e os méritos que os outros não tem.
Ulisses Maciel
sábado, 9 de junho de 2012
A crise da verdade em paixão segundo G.H. de Clarice Lispector
Paixão segundo G.H. pode ser considerado um
romance existencialista, pois aborda uma série de questões sobre os
limites entre o eu e a realidade. Marcado pela narrativa angustiante de uma protagonista desesperada
diante da condição humana, limitada à criação ora de uma verdade, ora de um
Deus que a conforte diante do abismo que é a existência. A crença em algo que
represente explicações seguras é representada no romance como uma terceira
perna – uma verdade.
Ideia de continuação
corpória, inicialmente identificadas pela terceira perna e em outro momento
pela identificação com o quarto. A personagem procura não apenas
psicológicamente, mas também nas estruturas corpóreas criar prolongamentos que
completem a compreensão de si mesma como existência. O quarto, configura de
certa maneira o interior de G.H., local onde ocorre as reflexões a respeito do
“eu”, ou de certa maneira, da imagem que a personagem tinha de si mesma como
sendo um “não-ser” que a aproximava da verdade, pois só seria possivel ser
negativamente.
Criando partes de seu próprio corpo a
personagem leva ao extremo a ideia de que a realidade só é possível se for
criada, não por mentiras, mas por inventividade. Essa crise do ser tem início
quando a personagem, identificada pelas iniciais G.H., percebe que o ponto de
sustentação de uma verdade a dar conta do inapreensível se perde.
Simbolicamente representado pela imagem de uma terceira perna, ou tripé, G.H.
descreve a crença em uma verdade como algo que ao mesmo tempo protege e impede
que o indivíduo, no caso, ela mesma, se mova diante do abismo da incerteza.
Todo o mistério em torno
da identificação da personagem, a começar pelo nome intensifica o clima
inebriado que envolve sua existência. A metáfora do tripé surge como uma forma
de apoiar a existência, evidenciando a insuficiência dos elementos que até
então a constituíam como ser.
Ao mesmo tempo em que a
perna representava segurança, ela trazia o peso da artificialidade, de uma
fundamentação que excede a própria essência instável e cambaleante do Gênero
Humano. A personagem, então, liberta-se desse membro excedente e
entrega-se a agonia da incerteza, própria da condição humana. Abrir mão de
explicações seguras simboliza uma aceitação da impossibilidade de verdades
puras e estáveis.
Ao perder a crença
fundamental em uma verdade que para a personagem seria absoluta, ela se
liberta, descobre a essência de um ser nunca existente, uma G.H. independente
da necessidade da crença, ela vive na condição das significações simbólicas e
inebriadas. “Perdi alguma coisa que me
era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária”.
No romance desenvolve-se
através de seu personagem, uma idéia trabalhada pela filosofia de Heráclito,
que afirma a não permanência de um estado das coisas. Segundo ele, Tudo é um
constante vir a ser. Nada é. Seja por influência do mundo sobre o homem, ou do
homem sobre o mundo. Nos restando viver sendo, pois ser, não é possível. Viver
uma verdade é domesticar a vida para torná-la familiar.
Essa concepção aparece também
em Jean-Paul Sartre,
quando o filósofo, em O que é literatura,
diz que o homem constrói o mundo e se constrói a partir dele, em uma cadeia
inseparável de ações; gerando assim, uma série de reflexos incompreendidos.
Quando um homem não é capaz de entender que os acontecimentos são conseqüências
desse processo, ele busca o caminho mais fácil, a crença em verdades criadas
para escapar da agonia diante do desconhecido.
Esta resistência em aceitarmos o que
não é facilmente compreendido ocorre devido a dificuldade de aceitarmos o mundo
apenas como ideal inalcançável, como meras representações em nossas mentes. Ao
perder essa idéia de ser, aquilo que antes considerávamos o “eu” se torna
instável.
Essa aproximação da
verdade pelo não ser, descrito pela autora, representa a busca pelo em que
acreditar. A questão não é acreditar, mas sim a constante busca pelo em que
acreditar. G.H. sabe no que acredita porém não sabe por quanto tempo acredita
no que acredita, tendo em mente a consciência do vir a ser, que nos
(des)constrói diariamente. O que não nos permite impor de maneira alguma uma
verdade que não seja temporária. Ela assume o erro como o único caminho para
verdade, pois é no erro que deixamos o conforto do que conhecemos e entendemos.
Não é o conhecimento da coisa em si que faz do homem um
ser privilegiado, mas a sua busca constante. O que nos leva a pensar se
tratamos esse limite do conhecimento de forma apropriada, reconhecendo a
impossibilidade de se chegar a um saber em si. A verdade é algo pequeno, cabível nos limites
do entendimento.
No obra de Clarice,
nota-se que a autora demonstra toda riqueza e angústia existente no místério.
Nada é facilmente compreendido em sua escrita. Ao final da leitura de um texto seu,
temos a certeza de que precisaremos refazer a leitura. A amplitute dos sentidos
ganha proporções infindáveis, profundas, obscuras e envoltas em interelações
quase que infinitas.
Ulisses Maciel
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Medo da morte.
Por que eu deveria temer a morte?
Se eu for, a morte não é.
Se a morte é, eu não sou.
Por que deveria temer o que não existe, enquanto eu existo?
Epícuro
Se eu for, a morte não é.
Se a morte é, eu não sou.
Por que deveria temer o que não existe, enquanto eu existo?
Epícuro
Assinar:
Postagens (Atom)